A <i>troika</i> passou a quarteto

Armando de Sousa Teixeira

Está dito e redito, infelizmente não sufragado em 5 de Junho, que as imposições dos credores, disfarçados de beneméritos (FMI/BCE/UE), extremamente gravosas para o povo português, não são o único caminho para sair da crise, ao contrário do que fizeram crer os partidos da troika política que assinaram o memorando impositivo (PS/PSD/CDS).

A renegociação da dívida, alargando os prazos de pagamento e exigindo (com a legitimidade capitalista!) o abaixamento das taxas de juro, não só é possível como desejável (até para os credores!...), e mais tarde ou mais cedo terá de acontecer.

É de elementar conta de merceeiro, que um país em recessão económica, imposta pela austeridade europeia, não terá condições para pagar as dívidas e daqui a um ano estará pior que hoje! Infelizmente esta evidência terá consequências sociais brutais, com a pioria do nível de vida das classes médias (que suportam a maior carga fiscal), com o aumento da pobreza das classes mais fragilizadas e com a degradação das áreas da Saúde, Educação e Solidariedade Social.

A esta situação terrível corresponderá um aumento inexorável do protesto e da contestação social, no exercício legítimo das liberdades democráticas e do direito inabalável da luta contra a desgraça, o infortúnio e a arbitrariedade do poder neoliberal, mesmo se vencedor eleito.

Curiosamente a Igreja Católica que nunca tomou posição clara contra a traição social-democrata (PS+PSD), afogando ao longo dos anos o País em dívidas e desigualdades, roubando aos pobres para dar aos ricos (grupos económicos, multinacionais, banca), insistindo numa política de direita capitalista e contra-revolucionária, toma agora uma posição política clara, alinhando no pensamento dominante (único?), de contornos cripto-fascistas.

A Conferência Episcopal Portuguesa, ao apelar ao cumprimento dos ditames da troika, avisando contra a agitação social anti-sociedade (?), apelando ao bom senso e contenção no protesto cívico (?!), colocou-se definitivamente do lado do poder reaccionário que em muitos anos de contra-revolução pôs o País à beira da ruína social e agora promete pôr trancas num edifício literalmente sem tecto para muitos portugueses.

Apostar na caridadezinha redentora que nega o direito constitucional à Solidariedade Social, colocar-se do lado de uma mais que evidente (mas ainda disfarçada!...) prática reaccionária, negando uma vez mais a essência da sua doutrina social ao lado dos fracos e oprimidos, deixa a igreja inexoravelmente do lado errado da História. A troika passou a quarteto, a partir deste momento o chanfalho tem o caminho livre !

 

 

 



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